A Polícia Federal identificou o Supremo Tribunal Federal (STF) como alvo de um suposto plano golpistatigrinho jogo oficial, citado 179 vezes em um inquérito de quase 900 páginas.
Os envolvidos teriam cogitado a prisão e até o assassinato de ministros do STF, além de promover campanhas de difamação e desinformação para desacreditar a Corte.
Segundo a PF, pelo menos 7 dos 11 ministros do STF foram mencionados nas investigações. Alexandre de Moraes, que aparece como principal alvo, foi citado 213 vezes — mais do que o próprio tribunal. Confira abaixo o levantamento da CNN:
Principais alvos no STFAlexandre de Moraes: Alvo principal, é mencionado em ataques que incluem campanhas de difamação e ameaças diretas.Luís Roberto Barroso: Aparece 12 vezes, ligado a um suposto diálogo gravado durante uma reunião ministerial de julho de 2022. Na ocasião, o então presidente Jair Bolsonaro o acusou, junto com Edson Fachin e Moraes, de não serem imparciais e insinuou corrupção sem apresentar provas.Edson Fachin: Citado 9 vezes, foi alvo de críticas de autoridades durante a mesma reunião ministerial, com declarações que reforçavam suspeitas infundadas sobre o processo eleitoral.Gilmar Mendes: Mencionado 6 vezes, seria um dos alvos de um plano de prisão no caso de um golpe de Estado, segundo a PF.Luiz Fux e Flávio Dino: Cada um aparece 5 vezes, envolvidos em campanhas de desinformação e tentativas de associá-los a conspirações.Dias Toffoli: Citado apenas uma vez, aparece em conversas envolvendo críticas à atuação do STF em investigações sobre ataques institucionais. Leia MaisMoraes é citado 206 vezes em relatório da PF que indicia Bolsonaro e mais 36
Relatório da PF: Moraes seguiu sendo monitorado mesmo após posse de Lula
Plano golpista propiciou atos de vandalismo do 8 de janeiro, diz PF Campanhas de desinformação
A investigação da PF aponta que membros do grupo golpista, como o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, planejavam espalhar informações falsas sobre ministros. Entre os alvos dessas campanhas estavam Barroso, Fux e Flávio Dino.
Mensagens obtidas pela PF indicam que Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, mantinha diálogo com Jair Bolsonaro para coordenar ataques a ministros. Em uma mensagem, Ramagem chama o STF de “parcial e político” e acusa os ministros de agirem contra a vontade popular.
Segundo a Polícia Federal, Jair Bolsonaro (PL) reforçou “a narrativa de fraude eleitoral, acusando, inclusive, os ministros do STF Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes de não serem isentos”.
O trecho transcrito da fala de Bolsonaro questiona: “Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Alguém acredita? Se acreditar levanta o braço! Acredita que eles são pessoas isentas, tão preocupado em fazer justiça, seguir a Constituição?”.
Na sequência, o então presidente relaciona o nome dos ministros com um possível suborno, dizendo que não faria essa acusação, mas sugerindo algo “estranho”.
“Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada! Olha o Fachin. Os cara não têm limite. Eu não vou falar que o Fachin tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. O… que o Barroso tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes tá levando 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Não vou levar pra esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo”, diz Bolsonaro, de acordo com o documento da PF.
O nome de Barroso volta a aparecer num diálogo de agosto de 2021 entre o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues.
Segundo a Polícia Federal, os dois estavam cedidos à Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, quando a conversa foi registrada.
A conversa foi sobre a possível invasão às urnas eletrônicas e a divulgação dos dados de um inquérito da Polícia Federal que apurava um suposto ataque ao sistema interno do TSE em 2018.
Campanhas difamatórias continuamA polícia afirma que a dupla planejou campanhas difamatórias nas redes sociais.
Bormevet cita uma postagem do deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP), que teria dito que um assessor de Barroso já seria investigado. “Temos que sentar o pau nesse assessor”, afirma o policial emprestado à Abin.
O assessor, segundo à PF, era o ex-secretário de Tecnologia da Informação do TSE Giusepe Janino, que havia sido, ainda segundo a Polícia, “apontado falsamente à época como assessor do ministro”.
Depois de refletirem juntos sobre a veracidade da notícia, Bormevet diz: “Não sei se o sobrinho é sobrinho do Barroso mesmo”.
Com o impasse, Bormevet teria pedido ao suposto comparsa: “Preciso que você ache o vínculo do sobrinho/Barroso”. Giancarlo afirmou,jogo do trigre então, que não poderia “jogar nos sistemas pq daria muita bandeira”.
Mesmo em dúvida, segundo a PF, Bormevet teria orientado que a campanha de desinformação contra Barroso e Luiz Fux fosse adiante. ‘‘Okay. Senta o dedo para galera’.’
Em outro trecho, a PF cita uma comunicação que teria acontecido entre o então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e o próprio Jair Bolsonaro de acordo com provas obtidas.
Em uma das mensagens sobre o ataque às urnas, que Ramagem estaria, segundo a PF, abastecendo Bolsonaro, o então chefe da Abin diz: “Até me surpreendi com o agradecimento ao Barroso ontem, mas compreendi a estratégia. O problema são essas piruadas para a canalhada de jornalistas. Estão em ataque às Forças Armadas.
Querem se aproveitar desse STF parcial, político e contra a vontade majoritária para reverter segurança jurídica da anistia e da transição”.
Ainda na reunião ministerial de julho de 2022, a transcrição mostra uma fala do general Braga Netto sobre Edson Fachin.
“Informações inverídicas”“Só observar que saiu uma notícia agora dizendo… o Fachin dizendo que auditoria não muda resultado de eleição. Não sei os senhores já viram isso”. Anderson Torres, também ministro à época, responde: “Depois que der m**, não muda nada não.”
Gilmar Mendes, segundo a Polícia Federal, seria alvo de prisão quando o decreto de golpe de estado fosse baixado. Ele seria preso junto com Moraes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Mendes também é citado nas comunicações entre Ramagem e Bolsonaro, segundo o inquérito.
“Gilmar Mendes pode ser um dos protagonistas entre os ministros, mas para a sociedade sua imagem não deixa de ser negativa”, afirma o então diretor da Abin.
O contexto era uma crítica feita por Gilmar Mendes durante a pandemia da Covid-19 à ocupação de cargos no Ministério da Saúde por militares, que foi rebatida em nota pelo Ministério da Defesa, então chefiado por Fernando Azevedo e Silva.
Segundo a Polícia Federal, “As mensagens escritas por Alexandre Ramagem — e possivelmente discutidas com o então presidente Jair Bolsonaro — revelam uma estratégia deliberada de enfrentamento aos membros do Supremo Tribunal Federal”.
Luiz Fux também aparece como alvo da campanha difamatória promovida pelo subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, cedido à Abin e do policial federal Marcelo Bormevet, também emprestado.
A investigação aponta que as ações visavam “criar informações inverídicas relacionadas aos ministros do STF com o objetivo de desacreditar o processo eleitoral”.
Cadernos e diálogos interceptadosAnotações apreendidas com o general da reserva Mário Fernandes, agora preso, também reforçam o envolvimento de figuras militares no plano golpista.
O documento registra tentativas de associar Flávio Dino, então ministro da Justiça, a uma suposta omissão durante o ataque ao Congresso em 8 de janeiro de 2023.
Diálogos entre parlamentares, como o senador Marcos do Val e a deputada Carla Zambelli, demonstram tentativas de promover o afastamento de ministros como Dino e Moraes, além do impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em um caderno preto, com uma cobra na capa, que seria de Fernandes, a Polícia Federal diz que “foram identificadas anotações que demonstram a atuação do investigado para criar narrativa com a finalidade de tentar atribuir ao então ministro da Justiça Flávio Dino a responsabilidade por omissão da tentativa de golpe de estado realizada no dia 8 de janeiro de 2023”.
Dino ainda é citado em diálogos que teriam acontecido entre o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e a deputada Carla Zambelli (PL-SP).
Sobre isso, a Polícia Federal afirma: “O congressista também parece ter como foco as ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do então Ministro da Justiça Flávio
Dino de Castro e Costa, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal. Não obstante, são enviadas reportagens que citam também ações do ministro Alexandre de Moraes.
Esse foco é reforçado em outro registro de conversa identificado, onde o Senador pede o afastamento e prisão do Ministro da Justiça, bem como o impeachment do Presidente da República”.
jogo do tigreDias Toffoli também aparece nas conversas entre Ramagem e Bolsonaro, segundo a PF. Em um dos diálogos, ele cita que o STF não se posicionaria sobre manifestações, inclusive vandalismo, com MST e UNE contra instituições e prédios públicos.
“Nunca STF se posicionava. Agora somam-se investigações. As palavras dos ministros do STF estão cada vez mais orquestradas e contundentes.
Enquanto isso, a defesa do governo está errando na forma comedida e visando sempre 44 composição.Toffoli abertamente, no pedido de investigação dos fogos de artifício, legitima e valida o inquérito inconstitucional do Alexandre de Moraes. O poder deles nunca foi tão ameaçado. STF já se apressou em ter instrumentos para tirá-lo do poder.”
Em junho de 2020, Toffoli presidia o STF e pediu a abertura de investigações contra pessoas que teriam lançado fogos de artifício contra o prédio do tribunal.
A Polícia Federal sustenta que a prova ajuda a mostrar como Ramagem teria aderido “de forma constante e permanente a discursos que reverberavam ataques sistemáticos a membros do Poder Judiciário, notadamente do Supremo Tribunal Federal (STF), através de acusações e narrativas que viessem a corroborar as ações adotadas pelo então presidente Jair Bolsonaro ao longo de seu mandado presidencial.”
Ministros do STF citados no inquérito:
Alexandre de Moraes – 213 vezesLuís Roberto Barroso – 12 vezesEdson Fachin – 9 vezesGilmar Mendes – 6 vezesLuiz Fux – 5 vezesFlávio Dino – 5 vezesDias Toffoli – 1 vezMinistros poupados
Quatro ministros do STF não foram citados diretamente no inquérito: Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, André Mendonça e Kássio Nunes Marques.
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